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'O DINHEIRO VAI TODO PARA O FIDEL'

Aqui vos deixo uma reportagem do Diário de Noticias que achei muito interessante (no minimo!)...

"Cuba abriu as portas aos turistas estrangeiros em 1990 e desde então são muitos os cubanos que optaram por trabalhar (legal ou ilegalmente) no sector. É assim que garantem o acesso aos tão desejados pesos convertíveis, moeda com que podem comprar aquilo que o Estado não fornece a preços reduzidos.

"De onde são? Há quanto tempo estão em Havana?" A abordagem é sempre a mesma, mas o resultado só depende dos turistas. Os guias alertam-nos para os jineteros, mas os cubanos têm a lição bem estudada. Para muitos, é a oportunidade para terem acesso a uns quantos pesos convertíveis que garantem que haverá comida na mesa ao jantar. Os turistas são verdadeiras galinhas de ovos de ouro, não só para os cubanos na rua, mas também para o Estado. Cuba celebra amanhã o 50.º aniversário da revolução e quase 20 de abertura ao turismo.

Osíris e Luis apanham-nos à saída do Museu da Revolução, no antigo Palácio Presidencial. Depois da abordagem inicial ("Portugal, há dois dias"), a conversa vai parar à salsa. "O melhor sítio é a Casa de la Música. Eu toco lá hoje à noite", diz Luis. "Sabem onde é? Não pagam nada..." E o isco está lançado. Com a desculpa de nos darem a morada, levam-nos a um café. "Gostaríamos de fazer um brinde."

Aí já caímos nas malhas dos jineteros, como os outros estrangeiros que estão nas mesas à volta. "É cedo para beber álcool", digo, tentando escapar educadamente à armadilha. "Não tem álcool." No final, a conta: 16 pesos convertíveis (quase 15 euros) por quatro sumos. É certo que uma grande percentagem ficará nos bolsos de Osíris e Luis. Verdade seja dita, não nos deram informações erradas: a Casa de la Música é mesmo um dos melhores sítios em Havana para ouvir e dançar a salsa.

Cuba recebeu em 2008 mais de 2,3 milhões de turistas ultrapassando, pelo quinto ano consecutivo, a marca dos dois milhões. Desde que o país abriu as portas ao turismo, em 1990, o sector registou um aumento anual de 11%. Os canadianos são os que mais visitam a ilha: "Uma semana aqui sai mais barata que um fim-de-semana no Canadá", diz um deles, em Cuba pela sétima vez. Depois, vêm italianos, espanhóis e britânicos. Em 2007, a ilha foi o destino escolhido também por mais de 30 mil portugueses, atraídos pela história, mas sobretudo pelo sol e pelas águas cristalinas.

Foi através de outro jinetero que, perto do Hotel Nacional, demos com o paladar "Las Três B" ("Bueno, Bonito y Barato"). Estes pequenos restaurantes abertos em casas particulares, que devem o seu nome ao restaurante Paladar de Raquel (personagem interpretada por Regina Duarte na novela brasileira Vale Tudo, os cubanos são viciados em novelas brasileiras), oferecem desde o pollo (frango) assado com mouros y cristianos (arroz branco e feijão) à lagosta, apesar da venda desta ser ilegal. "Lá fora, o dinheiro vai todo para o Fidel", queixa-se o jinetero.

Ao lado da sala de refeições, os mais novos preparam-se para ir para a cama e os mais velhos vêem TV. Nem o papagaio liga aos estrangeiros que acabam de entrar. Um dos problemas em Havana é a falta de habitação e, em cada casa (muitas completamente degradadas), é frequente viverem avós, pais e netos - às vezes já casados. Mas para aqueles que têm espaço a mais, a abertura ao turismo possibilitou outras actividades. Por cerca de 22 euros, Adriano aluga aos estrangeiros um dos dois quartos que renovou na sua casa, na calle Concordia. "É tudo muito arrumado e limpo e estou quase sempre com a lotação esgotada", conta-nos enquanto vai baloiçando na sua cadeira. "Fiz um investimento muito grande. Os quartos têm ar condicionado e sabe quanto é que custa um aparelho? 800 pesos cubanos. E cada vez que se avaria são logo outros 300..." Quando perguntamos como conseguiu arranjar esse dinheiro, remete-se ao silêncio.

Paco arranja dinheiro vendendo o jornal Granma aos turistas que passeiam pela colonial Habana Vieja. O preço na capa é 0,20 centavos de peso cubano, mas ele pede-nos dois pesos convertíveis (suficiente para comprar 240 jornais) e ainda nos "oferece" uma moeda com a efígie de Che Guevara. No final, pede-nos sabonetes. Ficamos sem saber se será para ele ou para vender no mercado negro.

Na central calle Obispo, uma jovem olha atentamente para o aviso na janela de uma loja que vende telemóveis. "Más barato!", lê-se no papel. A activação do serviço custa agora 60 CUC, metade do que há uns dias. "Para mim ainda é muito caro. Ninguém me envia dinheiro de fora", diz desolada. Outra forma de os cubanos terem acesso aos pesos convertíveis é terem família no estrangeiro. São esses que fazem agora fila à entrada da loja e que representam uma outra classe na sociedade.

Até há pouco tempo, os cubanos não podiam ter telemóvel. Agora, não é de estranhar ir na rua e ouvir o toque da Guantanamera, uma das mais conhecidas músicas cubanas, cuja letra foi baseada num poema do herói da independência, José Marti. "Hola papito." Depois de desligar, o jovem olha para nós: "De onde são? Há quanto tempo estão em Havana."*

A jornalista viajou para Cuba com visto de turista"

*SERVIÇO ESPECIAL DN/JN

In: http://dn.sapo.pt/Inicio/interior.aspx?content_id=1138247

Posted on 16:39:00 by Flip aKa House and filed under | 0 Comments »

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